“Os senhores não devem, porém, tomar essa advertência minha no sentido de que eu proponha dar-lhes conferências dogmáticas e insista em seu crédito irrestrito. Um equívoco desses far-me-ia grave injustiça. Não desejo suscitar convicção; desejo estimular o pensamento e derrubar preconceitos. Se, em decorrência da falta de conhecimento do material, os senhores não estão em condições de emitir um julgamento, não deveriam nem acreditar, nem rejeitar. Deveriam ouvir atentamente e permitir que atue nos senhores aquilo que lhes digo. Não é tão fácil adquirir convicções; ou, se estas são alcançadas facilmente, logo se revelam sem valor e incapazes de resistência. A única pessoa que tem o direito de possuir uma convicção é alguém que, como eu, tenha trabalhado, por muitos anos, o mesmo material e que, assim agindo, tenha tido, por si próprio, as mesmas e surpreendentes experiências. De que servem então, na esfera do intelecto, essas convicções súbitas, essas conversões-relâmpago, essas rejeições instantâneas? Não está claro que o ‘coup de foudre‘, amor à primeira vista, deriva de esfera bem diferente, da esfera das emoções? Nem mesmo dos nossos pacientes exigimos que devem convencer-se da verdade da psicanálise, no tratamento, ou aderir a ela. Tal atitude freqüentemente levanta nossas suspeitas. A atitude que neles achamos mais desejável é a de um benévolo ceticismo. Assim, também os senhores devem esforçar-se por deixar que os pontos de vista psicanalíticos amadureçam tranqüilamente nos senhores, junto com a visão popular ou psiquiátrica, até surgir a oportunidade de ambas se influenciarem reciprocamente, de uma competir com a outra e de se aliarem no rumo de uma conclusão.”
Freud, S. Conferências de introdução à psicanálise. Conferência XVI. 1916